Pronunciamento de Sua Excelência Reverendíssima Dom Giovanni d‟Aniello, Núncio Apostólico para o Brasil por ocasião da Abertura Nacional da Campanha da Fraternidade 2013.
Natal, 15 de janeiro de 2013
Eminências e Excelências Reverendíssimas
Distintos membros do Regional Nordeste II da CNBB
Reverendos padres e colaboradores
Meus amigos,
Distintos membros do Regional Nordeste II da CNBB
Reverendos padres e colaboradores
Meus amigos,
Agradeço de coração o convite para participar do lançamento da Campanha
da Fraternidade de 2013, numa celebração que faz parte da comemoração dos 50
anos que, por iniciativa do saudoso Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales,
iniciou sua caminhada de solidariedade e de esperança da Igreja no Brasil.
Ao Arcebispo de Natal, Dom
Jaime Vieira Rocha, minhas sinceras homenagens de gratidão também por aceitar
que a celebração fosse realizada nesta Igreja local, relembrando a primeira
Campanha realizada na Arquidiocese de Natal em abril de 1962.
A visita de Suas Eminências e
Excelências a Nísia Floresta e Timbó teve um expressivo significado para a
história da evangelização do Brasil, pois refletia a particularidade de
recordar o objetivo primordial da Campanha, destinada a recolher meios para
obras sociais e apostólicas da Arquidiocese. Sua importância foi logo
percebida, pois, nos anos seguintes, estendeu-se, através de seus diversos
temas a todo o território nacional.
Como foi justamente ressaltado
pelo Secretário Executivo da Campanha, o Padre Luiz Carlos Dias, a edição de
2013, além de ser um momento comemorativo, será também um momento de revisão da
Campanha da Fraternidade, frisando a necessidade de um aprimoramento do
conteúdo da Campanha para que esta possa ser sempre mais um “forte poder de
evangelização”.
Penso que todos estamos de
acordo que esta celebração adquire um importância ainda maior, considerando que
estamos no Ano da Fé que, como afirmou o Santo Padre, foi instituído para suscitar
“em cada crente, o anseio de confessar a fé e com renovada convicção, com
confiança e esperança” (Carta Apostólica Porta Fidei, 9). Neste sentido, o
tema da Campanha sugerido e aprovado para este ano não podia ter sido melhor:
“Fraternidade e Juventude”. Por certo, aas diretrizes propostas são dirigidas a
todos os católicos indistintamente, mas existe uma feliz coincidência no seu
objetivo, se pensarmos que, dentro de poucos meses, o Brasil será seda da
Jornada Mundial da Juventude.
Essa convocação foi feita pelo
Papa Bento XVI ao anunciar o lema da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013: “Ide
fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19), durante a audiência
geral no dia 24 de agosto
Em 2011, na Capital da Espanha,
o Papa chamou aquela Jornada de “uma formidável experiência de fraternidade, de
encontro com o Senhor, de partilha e de crescimento na fé: uma verdadeira
cascata de luz”.
Por isso, é tão importante que
os jovens do Brasil e do mundo assumam desde agora esse chamado à missão e
participem da Jornada como testemunhas vivas do Cristo.
Esse tema é para ser refletido
e meditado: fazer discípulos e chamar outras pessoas para a comunhão e o
convívio com o Senhor. Esse mandato, essa missão já esta anunciada nos
Evangelhos. E, na verdade, só faz discípulo quem já é discípulo, quem convive
com o Senhor.
“O que ganha o discípulo de
Jesus? Ganha a pertença ao reino, ganha a certeza do amor de Deus, ganha a
certeza de ser para os outros sinal de misericórdia e de amor. Ganha o levar e
doar a paz do Senhor. São esses os frutos e os dons de quem no mundo mais
precisa. O perdão, a misericórdia, a paz é que farão diminuir na sociedade, no
mundo de hoje, a violência, a guerra, a corrupção, a maldade, tudo aquilo que tira
a possibilidade do jovem crescer e colocar toda a sua riqueza e vitalidade a
serviço da humanidade”, afirmou o Papa.
No mandado final do texto de
Mateus – “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” – está o grande
sonho de todos, porque o contato com o Senhor, a amizade com Ele, desperta o
que cada um tem de melhor em si mesmo.
“Vivemos num mundo onde há
muitos desperdícios, perdas humanas por falta de chance. O convívio com o
Senhor desperta o que temos de melhor. O anúncio „Ide e fazei discípulos
entre todas as nações’ é um anúncio para a vida toda. Em nenhum momento
podemos interrompê-lo, porque ele supõe que quem é amigo do Senhor, por sua
vida e por seu estar no mundo, comunica aos outros a luz, a beleza e a alegria
de ser discípulo do Senhor. Essa é a missão de que precisa a nossa Igreja”.
“Ide e fazei discípulos
entre todas as nações!” (Mt 28,19) é
o lema da Campanha.
Confiando-nos este mandato, o
Senhor quis acentuar a confiança que em nós deposita e confirmar os sentimentos
de amizade que nutre por aqueles que estão dispostos a segui-lo.
Amigos e mensageiros! Que
combinação maravilhosa, que descoberta extraordinária a de saber-nos amigos de
Cristo e seus colaboradores na construção do Reino. Mas também, quanta
responsabilidade encerra e quão grande tem de ser nossa consciência ao sabermos
que o Senhor quer servir-se de nós para espalhar seu amor pelo mundo inteiro.
Como disse o Santo Padre o Papa
Bento XVI em sua mensagem à Juventude em 2012: “A Igreja tem a vocação de
levar ao mundo a alegria; uma alegria autêntica e duradoura, aquela que os
anjos anunciaram aos pastores de Belém na noite do nascimento de Jesus (cf. Lc
2,10). No difícil contexto atual, muitos jovens ao vosso redor têm uma imensa
necessidade de sentir que a mensagem cristã é uma mensagem de alegria e de
esperança!”.
Como a Igreja nos ensina, esta
missão tem de ser levada à frente com amor.
Como nos lembra o Santo Padre o
Papa Bento XVI em sua encíclica “Deus caritas est”, esse amor não é uma
condição abstrata, mas é uma pessoa: Jesus; é um acontecimento através de sua
encarnação, morte e ressurreição. Algo que não acabou, mas que se repete e que
age em todos os momentos de nossa vida através da ação do Espírito Santo: a
redenção continua sempre.
A humanidade tem caminhado e
ainda agora e sempre caminhará com a fome da palavra e do conhecimento de Deus,
mesmo que muitas pessoas nãoestejam conscientes dessa profunda necessidade de
suas almas. E ao conceder-nos o dom da fé, o Senhor impõe-nos o dever de
despertar-nos e de despertar aqueles que de encontram mergulhados no sono da
ineficácia e da morte.
Compete-nos o dever diário de
renovar o desejo de colocar Cristo no cume e no intimo das realidades humana.
Para isto, é necessário crescer no relacionamento pessoal com Deus e na entrega
aos outros, contribuindo com o nosso grãosinho de areia – a entrega diária
total – para a construção de um mundo renovado pela graça e pelo sal do
Evangelho, que o Senhor confiou aos seus discípulos.
Precisamente por isso a
formação da juventude deve ter sempre uma especial importância nas diretrizes
pastorais de cada diocese. Em várias ocasiões o Santo Padre Bento XVI fez notar
as contradições do tempo em que vivemos. “Em vastas partes do mundo, existe
hoje um entranho esquecimento de Deus. Parece que tudo caminha igualmente sem
ele. Mas existe, ao mesmo tempo, também um sentimento de frustração, de
insatisfação de tudo e de todos. É espontâneo falar não é possível que esta
seja a vida! De veras, não. E assim, juntamente com o esquecimento de Deus
existe um “bom” do religioso. Não quero desacreditar – diz o Santo Padre – tudo
que existe neste contexto. Pode existir nisto também a alegria sincera da
descoberta. Mas para dizer a verdade não raramente a religião se torna quase um
produto de consumo. Escolhe-se aquilo de que se gosta, e alguns sabem até tirar
dela algum proveito. Mas a religião procurada ao seu “bel prazer” no fim não
nos ajuda (Homilia 21.08.2005). E o Papa concluía com o seguinte convite:
“Ajudai os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho:
Jesus Cristo!”.
Não é por acaso esse o risco
que nossa juventude esta correndo? Analisando os ensinamentos dos Santos
Padres, Bento XVI detém-se num ponto de particular importância para os momentos
atuais. Ele afirma que o grande erro das antigas religiões pagãs constituiu em
ignorar os caminhos traçados no fundo das almas pela sabedoria divina. “Por
isso o acaso da religião pagão era inevitável, fluía como consequência lógica
do afastamento da religião reduzida a um conjunto artificial de cerimônias,
convenções e hábitos” (Discurso na Audiência Geral, 21.03.2007). O Papa
apresenta que os antigos padres e escritores cristãos, pelo contrario, optaram
“ pela verdade do ser contra o mito do costume” (ibidem). Tertuliano, como
menciona o pontífice escreveu: “Dominus noster Christus veritatem se, non
consuetudinem, cognominavit. Cristo afirmou ser a verdade, não costume”.
(Sobre o véu das virgens, I, 1
(PL, 2,889). O Sucessor de Pedro nos assinala que “a este propósito observa-se
que a palavra consuetudo, aqui empregada por Tertuliano referindo-se a religião
pagã, pode ser traduzida nas línguas modernas com as expressões “moda
cultural”, “moda do tempo” (Ibidem).
Não tenhamos dúvidas: apesar da
vitoria doo relativismo em alguns lugares, esse modo de pensar e de desorientar
tantas pessoas acabará por desmoronar como um castelo de cartas de baralho, por
não estar escorado na verdade de Deus Criador e Providente, que guia os
caminhos da história. Ao mesmo tempo, a realidade que vivemos a nossa volta
deve nos encorajar a não nos abandonarmos e a não abandonar as pessoas que
estão num estado de desilusão e de falta de conteúdo.
Nossos jovens necessitam da fé
e do vigor que ela nos transmite a eles é preciso dizer: “Convençam-se e
sustentem nos outros a convicção de que nós, os cristão, temos de navegar
contra a corrente. Não se deixem levar por falsas ilusões. Pensem bem: Contra a
corrente andou Jesus, contra a corrente foram Pedro e os outros primeiros
apóstolos e todos aqueles que ao longo dos séculos quiseram ser discípulos
fieis do Mestre. Tenham, pois, a firme persuasão de que não é a doutrina de
Jesus cristo que deve se adaptar aos tempos, mas sim os tempos é que devem
abrir-se à luz do Salvador”.
Vamos confiar nas palavras de
Bento XVI quando vem afirmando que: “ Caritas Christi urget nos – o amor
de Cristo nos impele” (2 Cor 5,14) : é o amor de Cristo que enche os nossos
corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, envia-nos pelas estradas
do mundo a proclamar o seu evangelho a todos os povos da terra. (cf. Mt 29,
19). Com seu amor, Jesus Cristo atrai a si os homens de cada geração: em todo
tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anuncio do evangelho, com um
mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho
eclesial mais convicto em favor de uma nova evangelização, para descobrir
novamente a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé (Porta
Fidei, 7) .
Não creio sair do objetivo
desta minha intenção se procurarmos renovar nossa convicção de que, na linha
pastoral de qualquer diocese, devemos incluir a necessidade imperiosa de que a
juventude seja orientada e formada por um sadio conceito da família.
É conhecida a sentença que com
pequenas variantes, afirma: “Família sadia, sociedade sadia. Família em crise,
sociedade em crise”.
A abrangência dessa afirmação
pode ser discutível, mas é inegável que encerra um grande núcleo de verdade.
Sobre a importância social da
família já se escreveram volumes alentados, análises e estudos ponderáveis. Eu
desejaria agora, concretamente, frisar apenas uma das razoes que, a meu ver,
evidencia o nexo de causalidade existente entre família sadia e sociedade
sadia.
Refiro-me ao fato que, na
sociedade, não há nenhum âmbito de crescimento humano e moral, nenhum ambiente
educativo, nenhum “coletivo” tão propicio e eficaz para o cultivo das virtudes
como a família bem estruturada. E por isso parece-me de suma importância,
levando em consideração que, no mundo atual, aparece sempre mais evidente que a
sociedade precisa das virtudes como de um oxigênio vital , de virtudes
aprendidas, arraigadas, exercidas e desenvolvidas até a maturidade. Decadência
social e ignorância ou desprezo pelas virtudes são a mesma coisa.
A não ser que hoje ainda se
considerem vigentes as afirmações feitas pelo poeta Paul Valéry, em famoso
discurso à Academia Francesa: « Virtude, senhores, a palavra “virtude”, já
morre ou, pelo menos está em vias de extinção [...]. Receio que não exista jornal
algum que a imprima ou se atreva a imprimi-la com outro sentido que não seja o
do ridículo. Chegou-se a tal extremo, que as palavras “virtude” e “virtuoso” só
podem ser encontradas no catecismo, na farsa, na Academia e na operata ».
Seria de desejar que atitudes
desse tipo tivesse ficado enterradas no passado. Quando Valéry falava, virtude
sugeria limites, enquadramento, barreira obseoleta, num ambiente ébrio do vinho
novo da liberdade. A centralidade da virtude na formação do ser humano havia
cedido o espaço à liberdade sem limites, numa eufórica erupção de
individualismo egocêntrico (que paradoxalmente, na primeira metade do século
XX, descambou nas duas maiores tiranias da história). A sociedade atual, com
suas mazelas, com os preocupantes desvios de uma parte não pequena da juventude
(basta pensar nas drogas) é de molde a reacender uma autêntica “saudade das
virtudes”. Mas, pergunto-me, será isso possível ao mesmo tempo em que se exalta
como nunca a “liberdade ilimitada” como único valor moral, ao passar que se
desprestigia a família?
Pois bem, diante disso, creio
necessário que nos perguntemos: onde é que a nossa juventude aprende a virtude,
que deve ser, acima de tudo, um valor reconhecido e amado pela criança, pelo
adolescente e pelo jovem, uma convicção enraizada, uma prática exercida com
empenho, da qual depende o bem da pessoa e da sociedade?
A família, sim, a família já
foi e ainda agora deveria ser ambiente de cultura mais propício para
descoberta, a valorização, o aprendizado e a prática das virtudes. Mas, em que
pé está a família entre nós? Será que o mundo de hoje esquece que a família é a
estrutura vital e moral indispensável para a construção do bem da sociedade?
Hoje em dia, como dizia o
jurista Pedro J, Viladrich, a sociedade tem uma escolha a fazer: ou ser uma
“constelação de famílias”, dessas células primárias, vitais, naturais, sadias
que constituem o bom tecido social; ou ser um “aglomerado de indivíduos”,
presos casa um deles ao interesse particular e ligado aos demais por aquilo que
Gustave Thibon chamava de “egoísmo compartilhamento”.
Portanto, queridos irmãos no
episcopado, cabe a nós também a missão de ensinar a nossos jovens que, como
filhos e filhas de Deus pelo Batismo, tem importante tarefa de fazer que o amor
entre nós seja uma projeção do amor que acontece entre o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, simbolizado na cruz peregrina da Jornada Mundial da Juventude e
que no Rio será mais uma vez derramado sobre todas as nações, através dos
jovens que participarão naquela significativa manifestação.
É essa a tarefa que, junto com
a cruz, os jovens brasileiros levarão para o Rio de Janeiro: levar ao mundo
inteiro, através de seu testemunho, o amor que Deus tem por nós.
Encaminhemos-nos, juntos com
nossos jovens, para o Rio de Janeiro na perspectiva do Ano da Fé, esta linda
iniciativa que quer ser um CONVITE para uma autêntica e renovada conversão ao
Senhor, único Salvador do mundo que, doando seu amor, introduziu a humanidade
numa nova vida.
Em virtude da fé, possa esta
nova plasmar toda a existência humana segundo a novidade radical da
ressurreição, transformando nossas mentalidades e pensamento para sermos, pouco
a pouco, purificados e transformados em Cristo.
Eminências, Excelências, caros
amigos,
Ao Concluir, faço votos que a
Campanha da Fraternidade alcance seus objetivos primários de revitalização em
todos os seguimentos da sociedades o sentido mais nobre dos valores que
norteiam a juventude brasileira.
Agradeço a atenção dispensada e
peço ao Altíssimo abundantes graças para todos, afim de que a luz do Espírito
Santo ilumine esse evento de capital importância para a Igreja e para o Brasil.
Muito obrigado!
+ Giovanni d’Aniello
Núncio
Apostólico no Brasil
Fonte: Arquidiocese de Natal
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